Era madrugada, quando estupidamente senti sua falta. Estupidamente porque nós havíamos se falado horas atrás. […] Mas onde quero chegar não é aí. É que, nessa madrugada, quando senti sua falta, eu quis te ligar, pra eu ouvir sua voz, ou até mesmo sua respiração. Mas não dava, pois já eram 04:51, e obviamente você estaria dormindo nessa hora. Mas eu tinha que te dizer, aliás, devo dizer-lhe o quanto você me tem, mesmo não sabendo, ou até mesmo não querendo. Queria só dizer o quanto estou dependente de ti, e, como queria sentir o seu cheiro adocicado, ver seu sorriso escapulido, queria ouvir sua voz abafada… Mas uma dúvida cruel me matava aos poucos: se eu fizesse isso, seria bom ou ruim, sabe? Te ligar, porque, quem sabe você não ia gostar de receber uma ligação minha? Ou odiar por alguém qualquer estar te acordando a essa hora. Porque eu sei que não sou tão especial pra ti, assim como você é pra mim, eu sei que, talvez, eu seja uma pessoa qualquer que você conversa só pra sair do tédio, do seu silêncio mórbido. Viu só? Talvez, talvez, talvez… Essa esperança maldita que se alimenta dentro de mim. Esperança de que hoje eu alcance o que eu não consegui ontem. O objetivo? Você sabe… é claro que o objetivo é você, meu amor. Sempre você. Aliás, tudo pra mim é você. E isso: “tudo pra mim é você”, soa como uma típica doce-mentira-frase-adolescente, sabe, aquelas frases mentirosas que você diz no calor do momento, da paixão. Aquelas que você usa pra definir o que sente aí dentro de ti, mas, o que sente, talvez, não seja tão grande assim, ou, seja grande de mais e que por isso, palavra alguma irá definir o que está sentindo por essa pessoa. […] Isso foi um dos motivos pra eu não te ligar, porque eu tive medo, medo de não saber o que dizer na hora, medo de você rejeitar minhas palavras, meus sentimentos… Mas eu precisava dizer, precisava tirar aquilo de mim, mesmo que você rejeitasse, mesmo que não fizesse diferença alguma pra você ― e eu sei que não ia fazer ― Mas eu precisava, porque você é diferente pra mim; você desvendou segredos antes julgados, parece que me conhece à tempos. E você me afeta, e sabe disso muito bem, me afeta como a kryptonite afeta o superman, capaz de matar. ― sim, me mata por dentro ― eu morro toda vez que me machuca. Mas, assim como me machuca, tem vezes que me faz tão bem, que me faz sonhar em só ver o seu doce sorriso, ouvir essa sua risada calada que é tão linda. Me sinto bem quando guardávamos a nossa rara inocência, e também quando trocávamos aqueles olhares dialogantes, que, por serem dialogantes, eu absorvia suas palavras sem mesmo ouvi-las. Depois de um longo tempo de reflexão, resolvi te ligar, resolvi dizer para ti o quanto lhe pertenço, o quanto me tem, o quanto me doma. Resolvi dizer para que faça de mim o que quiser, que faça de mim seu sonho adolescente. Resolvi dizer que faça o que quiser, pois eu sei que se algo der errado, eu serei o culpado, é sempre é assim mesmo. Então resolvi ligar, minha mão estava trêmula na hora de apertar o botão ‘chamar’, e minha respiração ofegante… Quando depois do quinto toque, você não atendeu. Resolvi desistir e ir dormir. Então fui, e mais uma vez, fui me deitar, com o desejo de te dizer o que realmente se passa dentro de mim. Fui me deitar, levando meu corpo cansado pra cama, imaginando que você podia estar nela, me esperando, e também levando mais uma vez, e mais uma noite o desejo de ti, somente no meu coração.
